Ora bem, este foi o quinto
Halloween que passei na minha casa e, finalmente, desta vez já não fui apanhado
desprevenido. É que em outubro de 2009, dois meses depois de me ter mudado,
estava eu descansado a ver televisão, quando por volta das nove e meia ouvi uma
algazarra tremenda, urros e guincho lancinantes vindos do hall das escadas.
Entrei em pânico e o meu cérebro desligou-se. Desligou-se o cérebro, a
televisão, as luzes, tudo. Fiquei ali imóvel e em silêncio, à espera que
aqueles espíritos malignos se afastassem sem me fazerem mal. Por uma razão ou
outra, nunca antecipada, a coisa repetiu-se nos três anos seguintes, sendo que
no ano passado os sacanas dos espíritos se atreveram a deixar pedacitos de
papel higiénico à nossa porta.
Este ano resolvi tomar o assunto em mãos,
entenda-se nas mãos da Outra Metade e, quando ouvi a chinfrineira, empurrei-a
para a porta. Quando a abriu, foi confrontada com quinze pigmeus ou anõezitos, à volta dos seis anos, mascarados de esqueletos, bruxos e bruxas,
que a ameaçaram com a frase “doçura ou travessura. Enfim, acabaram por levar os meus mini mars
e foram assombrar outro apartamento. Para nosso espanto, passada uma hora, lá
voltamos a ouvir as mesmas vozitas do além. A Outra Metade voltou a arriscar espreitar e deparou-se com uma comitiva mais pequena da mesma tribo. Vocês outra
vez? Nós somos outros, disseram eles. Naquela idade devem pensar que a máscara
os torna irreconhecíveis, tipo gato escondido com rabo fora,
porque realmente eram os mesmos sacanitas, satisfeitos da vida por andarem sozinhos pelo condomínio a sacar doces a toda a gente.