Sendo certo que
não acredito em deus e muito menos na igreja católica, não deixo de compreender
a sua origem e percurso, que no fundo é uma variante de todas as religiões inventadas
pelo Homem. Na origem, naturalmente, estará a necessidade de explicar o que nos
era inexplicável, na essência, a própria origem do Homem, do espaço e do tempo. Suponho, até, que a maior preocupação residia no tempo, dada esta nossa vontade
inexorável de viver, que nos leva a ter de acreditar no paradoxo da vida depois da
morte, seja no céu, inferno, limbo, encarnando numa mosca ou cão. Pura e simplesmente não queremos morrer, desaparecer, deixar de existir. Quanto ao percurso, todas
as religiões procuraram estabelecer códigos de comportamento, modos de vida,
preceitos morais, enfim, regras, mais ou menos ajustadas ao seu tempo.
Acontece
que, com o passar dos tempos, as religiões viram a sua função
ultrapassada pelos acontecimentos, particularmente a católica, que surgiu numa
época em que as sociedades já se alicerçavam em organizações complexas, tornando-se num
entrave à sua evolução, em vez de um dos seus motores. Uma
religião que centra a sua doutrina no combate a práticas da sociedade aceites,
reguladas e legisladas, como o combate ao casamento homossexual, ao aborto ou a anticoncepção, é inútil. Para defender a vida, a oração e os preceitos morais há muito que
foram substituídos pela educação, ciência e leis. Em suma, o acesso à
informação tornou a religião obsoleta.
Em todo o caso, ao ver este novo papa, Francisco I, apresentar-se perante o mundo tão candidamente, alimentei uma ideia que gostava de não largar. E se de repente fosse possível passar para segundo plano a transmissão da doutrina, dogmas e preceitos da religião católica? Se de repente, a maior empresa do mundo, a única verdadeiramente global, que se estende da cidade mais cosmopolita, à populaça mais recôndita, se despisse de toda a sua altivez e se ajustasse aos nossos dias? Se de repente se transformasse na maior ONG e assumisse como principal vocação trazer conforto a quem precisa? Porque não "ser uma ONG piedosa, mas não a igreja"?
3 comentários:
Grande post mas com um fim simplesmente utópico, infelizmente.
Eu sei.
É pena que o homem não perceba quanto mal encerra a sua afirmação e que a alternativa de fazer o bem pelo bem, tem muito mais valor do que necessitar da religião como pretexto.
Muito bom , piqueno RCA. Sendo ou não o ópio do povo, a igreja católica está obsoleta e faz lembrar um cão a correr atrás da própria cauda.Este homem é tido como o mais pragmático dos arcebispos da igreja. Pode ser que traga a mudança.
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