quarta-feira, 17 de abril de 2013

Desculpem qualquer coisinha

E agora que as coisas começam a apertar a sério, eis que o principal estudo de suporte à austeridade é descredibilizado em praça pública. Aparentemente, Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, os engraçadinhos que escreveram uma coisa que se chama Growth in time of debt, resolveram, vá-se lá saber porquê, excluir dos dados estatísticos que suportam o seu trabalho a Austrália, Bélgica, Áustria, Canadá e Dinamarca. Não contentes com isso, ainda atribuíram ponderações diferentes aos anos de crescimento com dívida sobre o PIB inferior a 90%, relativamente aos anos de depressão com dívida nas mesmas condições.

E é assim que a bíblia que tem dado suporte às políticas implementadas em Portugal, Grécia, Irlanda e até Espanha, cai por terra. Cai a bíblia, mas não o sofrimento dos austerizados. Note-se que um outro trabalho que também dava cobertura a estas políticas já tinha sido chutado para canto, desaparecendo assim o suporte científico para a alucinação, para alguns pesadelo, em que andamos metidos.

O engraçado, ou não, é que até aos olhos de qualquer desgraçado com a quarta classe era evidente que com a redução do investimento e emprego público, o rendimento disponível para o consumo iria diminuir, contraindo-se assim o consumo, consequentemente o emprego. Desta forma, se por um lado temos que a economia produz menos, diminuindo assim o PIB, também gera menos impostos para fazer face à despesa. Por outro, essa mesma contração gera desemprego, que tem de ser subsidiado por finanças públicas, aumentando o seu peso no orçamento do estado. Perante isto, só um imbecil é que acredita que uma fórmula matemática pode ter um segredo oculto, que por artes mágicas se vai revelar, resolvendo todos os problemas da economia por via de um reset.

Não quero com isto dizer que não seja necessário, digamos, esterilizar a função pública. É evidente que a sua estrutura e peso na economia do país é desproporcionada, mas há seguramente outras medidas a implementar no imediato, nomeadamente no que respeita a igualdade de direitos entre todos os portugueses, cuja implementação seria facilitada pelo momento político e económico. Sendo assim, venha o TGV e o novo aeroporto de lisboa. Lamentavelmente e no caminho, começo a achar que o Sócrates ainda vai parecer um visionário.

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