E agora que as coisas começam a apertar a sério, eis que o
principal estudo de suporte à austeridade é descredibilizado em praça pública.
Aparentemente, Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, os engraçadinhos que
escreveram uma coisa que se chama Growth in time of debt, resolveram,
vá-se lá saber porquê, excluir dos dados estatísticos que suportam o seu trabalho a Austrália, Bélgica,
Áustria, Canadá e Dinamarca. Não contentes com isso, ainda atribuíram
ponderações diferentes aos anos de crescimento com dívida sobre o PIB inferior
a 90%, relativamente aos anos de depressão com dívida nas mesmas condições.
E é assim que a bíblia que tem dado suporte às políticas
implementadas em Portugal, Grécia, Irlanda e até Espanha, cai por
terra. Cai a bíblia, mas não o sofrimento dos austerizados. Note-se que um outro
trabalho que também dava cobertura a estas políticas já tinha sido chutado para
canto, desaparecendo assim o suporte científico para a alucinação, para alguns pesadelo, em que
andamos metidos.
O engraçado, ou não, é que até aos olhos de qualquer
desgraçado com a quarta classe era evidente que com a redução do investimento e
emprego público, o rendimento disponível para o consumo iria diminuir,
contraindo-se assim o consumo, consequentemente o emprego. Desta forma, se por
um lado temos que a economia produz menos, diminuindo assim o PIB, também gera
menos impostos para fazer face à despesa. Por outro, essa mesma contração gera
desemprego, que tem de ser subsidiado por finanças públicas, aumentando o seu
peso no orçamento do estado. Perante isto, só um imbecil é que acredita que uma fórmula
matemática pode ter um segredo oculto, que por artes mágicas se vai revelar,
resolvendo todos os problemas da economia por via de um reset.
Não quero com isto dizer que não seja necessário, digamos,
esterilizar a função pública. É evidente que a sua estrutura e peso na economia
do país é desproporcionada, mas há seguramente outras medidas a implementar no
imediato, nomeadamente no que respeita a igualdade de direitos entre todos os
portugueses, cuja implementação seria facilitada pelo momento político e
económico. Sendo assim, venha o TGV e o novo aeroporto de lisboa.
Lamentavelmente e no caminho, começo a achar que o Sócrates ainda vai parecer
um visionário.
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