sábado, 18 de maio de 2013

Para memória futura

Durante a semana que passou estive a fazer entrevistas de recrutamento. Como sempre, fui confrontado com uma amostra da população portuguesa, aqui abordada em jeito de fábula

A toupeira, que começou o ensino superior, desistiu, mudou várias vezes de emprego e passados dez anos, está outra vez no ensino superior (e pelos vistos não está a correr bem). Não faz a mínima ideia para onde vai, aliás fiquei com a impressão que nem de onde vem, mas está à espera que um empregador acredite nela, sei lá eu porquê.

O grilo, esforçado e que já mudou de cidade várias vezes, sempre na procura de melhores oportunidades, mas que tinha  a insuportável caraterística de ter opinião sobre tudo, que fazia questão de partilhar e que pura e simplesmente não se calou durante toda a entrevista. E quando eu digo não se calou, quero dizer que quase não me lembro de ter feito perguntas.

A formiga, que começou a trabalhar ainda não tinha acabado o secundário e que tem procurado oportunidades profissionais que consolidem o seu percurso e competências. Sabia qual era o papel que se esperava representasse e esforçou-se para o conseguir

A cigarra, uma tipa que até nem era nada burra, não se desse o caso de ter apostado com igual peso e medida na competência e no charme. Estava claramente convencida que para ser contratada bastava menear a cabeça, fazer beicinho e passar as mãos pelo cabelo e, aparentemente, em momento algum lhe ocorreu que ninguém minimamente lúcido está interessado em meter na empresa uma gaja que vai de certeza  confundir os moços e arranjar confusão com o mulherio.

Sendo assim, cientificamente concluo que setenta e cinco porcento da população portuguesa não faz ideia do que quer ou é esperado dela em termos profissionais. E isto até nem me chateava por ai além, não fosse a forte probabilidade de frequentemente ser atendido por um deles.

3 comentários:

MDRoque disse...

Isso levanta a eterna questão existencialista : quem somos para onde vamos de onde viemos

Resposta à primeira, sei lá, à segunda, beber um copo, à terceira, para casa dos pais, que é o que acontece quando não nos dão nem trabalho, nem emprego ( que são coisas distintas....) e temos que andar por cá...

Anónimo disse...

e entao contratou a cigarra?

RCA disse...

Boa pergunta. ..