segunda-feira, 4 de março de 2013

O povo é quem mais ordena...

Com as marchas deste sábado, fiquei convencido que anda por aí muito boa gente enganada ou, pior, a tentar enganar os outros. O engano, está bom de ver, reside no equívoco quanto à influência de Portugal na comunidade internacional e a importância relativa dos diferentes agentes políticos e económicos (e não, não estou a discutir se um polícia é mais importante que um médico ou um cantoneiro).

O direito à manifestação nos moldes atuais foi instituído com a revolução de 25 do 4, simultaneamente à nacionalização da parte mais importante da economia portuguesa. Quando as "forças democráticas" (inserir riso) convocavam manifestações ou greves gerais, eram mesmo gerais e o país parava. Paravam todos os serviços públicos e as principais empresas da indústria (refinarias, químicos…), empresas de transportes, EDP, CTT, TLP (PT, para os mais novos),  os bancos e as seguradoras. Tudo parado, a começar pela cabeça de quem as decidia ("Don Camilo", de Giovanni Guareschi). Hoje, quando é convocada uma greve geral, só param os serviços públicos. É irrelevante, uma anedota, um resquício de um passado em que a troco de pretensos direitos, incomportáveis pela riqueza produzida, o país foi empurrado para a dívida e a perda de competitividade.

Obviamente que grande parte do problema tem origem nos políticos que temos que, mais do que serem os que merecemos, são o que somos. Foram escolhidos e eleitos por nós, de entre nós. É por isso que para mim, em última análise, pior que uma greve, só mesmo uma marcha como as de sábado, que não passam de uma birra, um amuo, um insulto à democracia que tanto se queixam lhes estão a roubar. De facto, por pior que seja, este governo foi eleito há menos de dois anos.  Haverá quem tenha votado com convicção, quem o fez por não ver alternativa e, seguramente, quem acreditava que os problemas não os iam atingir. Ninguém foi privado do seu direito de voto, nem de se organizar, intervir e contribuir para a solução dos problemas do país. O direito à indignação vem acompanhado de responsabilidade, que passa pela disponibilidade para fazer parte do sistema político, participar diariamente e mudá-lo por dentro. Dizer não gosto ou não quero mais e ir dar um passeio com um cartaz na mão num sábado à tarde, na esperança que tudo se resolva num passe de mágica, mais do que curto, é uma infantilidade.

2 comentários:

MisS disse...

Gostava de ter visto aquelas empresas de sondagens, que tantos nos chateiam por telefone, a fazerem-se úteis e a ir lá para o meio só para aferir quantos dos que lá estavam a manifestarem-se votaram nas eleições passadas. Só para termos uma ideia do grau de responsabilidade cívica de quem tanto clama pela democracia.

Anónimo disse...

As pessoas que estiveram na manif/marcha sabe bem que não vai resolver nada, talvez um pouco, se o povo tiver juízo, nas próximas eleições,mas tem todo o direito de se mostrar descontente com o governo deste país e dizer parem com tanta austeridade que o povo não aguenta mais. Será assim tão difícil de compreender?