sábado, 26 de janeiro de 2013

O amor não escolhe idade e pelos visto o ódio também não

Ontem, eu e a Outra Metade resolvemos fazer um jantar mais aprimorado. Fazer é como quem diz, porque não fazemos a mínima ideia de quem o fez, jantamos fora, por acaso no restaurante onde a levei a primeira vez, que até é bem catita, não fosse o caso de ser frequentado por malta que em média deve ter o dobro da idade dela. Adiante, calhou-nos uma mesa exatamente ao lado da que ficamos da primeira vez, desta vez ocupada por um casal de idosos, na casa dos seus setenta anos, o que me pareceu enternecedor e até profético.

Acontece que a dada altura comecei a estranhar o silêncio na mesa deles. Lá pensei "bem, ao fim de tantos anos se calhar já não têm nada para dizer". A coisa foi andando, nós estávamos animaditos, até que ouvi "eu não preciso do seu dinheiro. Era o que mais faltava, agora tenho muito mais dinheiro do que você". Como não ouvi claramente, dei espaço a que tivesse ouvido mal, até que ela diz "porque o único homem que amei foi o XXXX, que me enchia de carinho e era um amante ferveroso. Pena só lhe ter dito que gostava dele, quando ele já estava casado há muito tempo". Por pouco a Outra Metade não ficou coberta com o folhado de bacalhau que eu mastigava satisfeitíssimo da vida.

A partir daqui foi sempre a descer para ele, a subir para nós, que tivemos direito a jantar com espetáculo, pelo mesmo preço. É que a coisa teve detalhes do género "pois porque você dava tudo à sua mulher, não admira que ela o chamasse paizinho", "quantas amantes teve?", "e a esta também lhe dá tudo", "agora não tem nada, até teve de vender o Porsche". Concluindo, ainda estou para saber se a senhora era a mulher despeitada, a amante despeitada, a irmã invejosa ou um engate na terceira idade.

Lamentavelmente não sei o que o tipo estaria a pensar, porque ele efetivamente não dava troco. Suponho que a coisa girava entre "fala para aí, que as memórias ninguém mas tira" ou "fui um burro do caraças, não precisava de estar agora nesta situação". Por outro lado, podia também ser "nunca mais te calas, para te levar a casa, que brasileira já está à minha espera com o champanhe a gelar".

3 comentários:

MisS disse...

a vida não acaba aos 70! São boas notícias...

RCA disse...

Podes crer. E ela ainda o ameaçava que caso ele não ficasse o resto da noite com ele, ia dali direta para o Twins.

Maria Luís disse...

E ainda querem "matar" os velhos! Eles é que nos ensinam :)