terça-feira, 2 de outubro de 2012

Segurança Social

Ok, é melhor prepararem-se, porque este post facilmente pode ser percebido como uma coisa assim um bocadito a dar para o fascista. Coisa pouca, nada que dê para iniciar um movimento neonazi, nem sequer uma daquelas marchasitas, com os tipos fantasiados, a fazer de conta que o terceiro reich e a nova ordem ainda andam por aí.

Acontece que durante a segunda guerra mundial, por via do racionamento, muitos países adotaram as senhas alimentares. Suponho que à data as dificuldades eram tantas, que não passou pela cabeça de ninguém preocupar-se como a dignidade humana, que à luz da grandeza das coisas, acabava por ser uma questão comezinha. Depois, vieram os tempos de fartura e o entendimento geral foi que há um conjunto de necessidades que todos temos o direito de ver satisfeitas (saúde, educação, alimentação, abrigo...) e que se formos incapazes de as suprir pelos próprios meios, o Estado deverá intervir e providenciar nesse sentido. Até aqui estou alinhado com o programa, quanto mais não seja por egoísmo, porque ninguém sabe o dia de amanhã.

Infelizmente as coisas deram para o torto e, como sempre acontece quando envolve pessoas, a malta começou a abusar do sistema. A segurança social, passou a ser a idiota social ou a violada social, e temos subculturas inteiras que se dedicam a tirar o máximo partido do sistema criado para proteger os mais desfavorecidos. Desde aqueles que não trabalham, nem nunca quiseram trabalhar, até aqueles que  não só trabalham e têm rendimentos próprios, mas não olham a meios para ir recebendo qualquer espécie de subsídio.

Por mim está tudo bem, porque não antecipo que nos próximos anos seja possível determinar facilmente quem realmente necessita ou não de ajuda, pelo que é importante que o Estado continue a desempenhar este papel. Em todo o caso, não vejo porque é que a coisa há-de ser paga em dinheiro, que em muitos casos é gasto em cerveja, tabaco, pequeno almoço no café (normalmente ainda em pijama, robe e chinelos), assinaturas da SportTV, televisores LCD novos, consolas de jogos ou, como descobri ontem, em férias.

Por mim, o caminho é simples. O Estado supre as necessidades básicas, mas fá-lo diretamente, ou pagando ao fornecedor. Porque não a distribuição de um cabaz alimentar (no limite diariamente, para que não haja tráfico para lojas) ou a entrega de senhas para a aquisição de géneros? Porque não o acerto direto com as empresas fornecedoras de energia? A atribuição do passe? O pagamento da renda ao senhorio ou ao banco, com o valor da prestação limitado, para que o custo não seja desmesurado face à ausência de rendimentos próprios? Tudo isto são ideias soltas, que obviamente precisam de ser trabalhadas, mas que devem conduzir a um único objetivo - ao apoio justo e equitativo daqueles que foram desfavorecidos pela sorte, porque esses certamente estarão agradecidos por qualquer forma de auxílio (e basta estar atento ao afluxo aos bancos alimentares, para o perceber).

Aparentemente, este estado social está a acarinhar uma classe de atrasados mentais, que se contentam em viver na mediocridade, não deixando contudo de drenar a segurança social deliberada e impunemente, convictos que são mais espertos que aqueles que efetivamente têm a sorte de trabalhar e contribuem para o sistema, na expetativa que este os apoie se um dia o infortúnio bater à porta.

Por fim, não consigo compreender o porquê da celeuma sobre o trabalho como serviço cívico quando se está a receber apoios da segurança social? Não estou a falar de casos limite, como engenheiros a carregar cimento, mas de trabalho adequado às competências de cada um. Porque não colocar esta mão de obra ao serviço do estado ou ao serviço de empresas, quando estas demonstrem inequivocamente que precisam de mão de obra e a impossibilidade de a pagar?

E é isto, após o intervalo voltamos a linha editorial neoliberal.

9 comentários:

Marta disse...

considerando-me uma pessoa de esquerda concordo com muitas coisas escritas. Outras, cuidado!!

MDRoque disse...

Eu já fui de esquerda, mas curei-me . Concordo com muita coisa, principalmente porque constato diariamente que, se entrarem mais meia dúzia de patacos na conta bancária ao fim do mês, há muito boa gente a contar pelos dedos para quantos dias é que dá, para poder ficar em casa "doente"....

Sílvia disse...

Ora, eu nem ia referir isto, porque acho que esta opinião não tem a ver com partidos, mas com bom senso, de qualquer forma, como vi os comentários de cima... Eu nunca fui de esquerda! Adiante...

Estou completamente de acordo. Conheço A que usufrui do rendimento social de inserção e B que tem um pequeno anexo para alugar, a segurança social pediu a B para alugar o espaço a A (coitadinhos), a segurança social paga-lhes em dinheiro, e o B (que faz pela vida, trabalha e muito) fica a "arder" com o aluguer, ou espera até o sujeito A lhe apetecer pagar (entenda-se até este comprar tudo o que lhe apetecer para o mês, incluindo tabaco). E A tem um potente LCD, coisa que B não tem! Vá-se lá entender!!

Também conheço quem receba à conta da quantidade de filharada que tem mais de 1.000 euros/mês (coisa que eu não recebo a trabalhar!), além disso ainda lhes é fornecido um capaz com comida, incluindo vegetais para a criatura fazer sopa para os filhos, pois enquanto grande parte dos miudos leva um pão de casa, os filhos da dita cuja levam bolicaos, e a hortaliça vai para o lixo!!

Só mais uma coisinha, o Rendimento Social de Inserção pressupõe que haja real inserção - "•Um contrato de inserção para os ajudar a integrar-se social e profissionalmente." (http://www2.seg-social.pt/left.asp?03.06.06)
Logo, só têm é que fazer algo de útil pela sociedade, por pouco que seja. A ideia era boa, mas pelo caminho perdeu-se o mais importante, neste caso a inserção.

RCA disse...

E tenho dito... Se vocês fossem 50000 a comentar, formava-se já aqui o partido da des-solidariedade social... É lembrar que já houve o partido da solidariedade social. Esse, António Sérgio era um génio e um percursor.

Pena eu não ser a Pipoca :(

Sílvia disse...

Gado ao poder, gado ao poder,...!!!
(não sei o que quer dizer RCA, e de qualquer forma parece-me que "Gado ao poder" terá mais impacto!!)

Marta disse...

No poder já lá deve haver muita vaca e bois também.

RCA disse...

Sim, mas onde cabem 250 e tal, cabe sempre mais um, não? Vá lá!

Unknown disse...

Ao serviço do estado? Mas o estado não está a fazer favor nenhum em pagar o subsídio de desemprego pois para isso todos descontamos. Tem, é a obrigação de ver caso por caso e acabar com tantos de recusa de emprego pois recebem o subsídio e vão fazendo uns trabalhinhos ali e acolá e já dá para os copos e cigarros.Acabar com o rendimento mínimo ou de inserção social para alcoólicos e toxicodependntes pois se dizem que é doença comecem a dar aos diabéticos, hipertensos e doentes oncológicos pois esses não escolheram ser doentes.E mais não digo pois estaria aqui até amanhã.
"Gado ao poder" pois assim em comida já gastavam menos. Era só dar-lhes palha.

RCA disse...

Ó Maria Costa, quer-me pareceu que não percebeu o espírito do post, o que certamente será falha minha. Realmente o que me interessa são os RSIs e variações da coisa.

No entanto, não me parece que nós descontemos para o subsídio de desemprego, como aliás se pode ver pelo estado em que está a capacidade financeira da segurança social, para suportar tantos desempregados. Se fosse para isso, tinha de descontar muito mais, ou pelo menos ter taxas dinâmicas em função da taxa de desemprego. Do meu ponto de vista, nós descontamos para ter reforma.

Uma última nota, será que o subsídio de desemprego , RSIs... não têm um efeito perverso? Ou seja, levam a que determinado tipo de pessoas não encarem com tanto empenho a sua atividade profissional, porque simplesmente a alternativa, não trabalhar, não é propriamente pior?


Repare que não interpretei o seu último post como um insulto.